+55 48 99152 9799 contato@zr.legal

Captação de Recursos: O Que É e Como Pode Impactar a sua Startup

SUMÁRIO

  • Introdução
  • Por que as startups precisam captar investimentos?
  • Captação de recursos para estágios iniciais
    • Investimento FF&F (Family, Friends & Fools)
    • Investidor Anjo
  • Próximas fases da captação de investimentos
    • Aceleradoras
    • Crowdfundings
    • Fundos de Investimentos
    • Venture Debt
  • Conclusão

Introdução

As startups dependem significativamente de investimentos por diversas razões, sendo crucial compreender esses motivos ao analisar os estágios de seu desenvolvimento. 

Neste artigo, iremos explorar desde a concepção da ideia até a fase de expansão de uma startup e como a captação de investimentos impulsiona fatores essenciais como inovação, escalabilidade e competitividade em um ambiente de mercado dinâmico e competitivo. Acompanhe conosco!

Por que as startups precisam captar investimentos?

Os estágios de desenvolvimento de uma startup demandam investimentos por diferentes razões, alinhadas aos desafios específicos de cada fase. Na etapa de ideação e validação, os recursos são essenciais para a pesquisa inicial, desenvolvimento de protótipos e testes de mercado, sendo a captação de recursos essencial para garantir a viabilidade da ideia e a continuidade do projeto.

Conforme a startup avança para o estágio de crescimento, os investimentos se tornam cruciais para financiar a expansão operacional, contratação de talentos e aquisição de clientes em larga escala. Nessa fase, rodadas de investimento, como seed funding e séries A, são comuns, proporcionando os recursos necessários para impulsionar o crescimento rápido. Por conta disso, o venture capital desempenha um papel muito significativo.  

Nesse sentido, vale ressaltar que a principal garantia do venture capital é a participação acionária, ou seja, investidores dessa modalidade injetam capital na startup e, então, se tornam sócios dessas empresas. É nesse momento que uma das principais características do venture capital se manifesta: a troca financeira pela participação acionária permite que os novos sócios, com conhecimentos diferentes dos sócios fundadores, possam auxiliar no desenvolvimento da empresa através de conselhos e conexões valiosas.  

Na sequência, na fase de expansão, os investimentos continuam desempenhando um papel vital, sendo o venture debt – modalidade de crédito dentro do Venture Capital uma opção viável, considerando que envolve a obtenção de empréstimos com condições específicas para startups. Já as rodadas de financiamento mais avançadas, como séries B e C, ou até mesmo IPOs, são estratégias para captar recursos que permitam à empresa se manter competitiva e continuar sua trajetória de crescimento, porém, que também possuem como principal moeda de troca a participação societária. 

Sendo assim, a captação de investimentos ao longo dos estágios de desenvolvimento não apenas viabiliza a operação da startup, mas também impulsiona sua capacidade de inovar, escalar e se manter relevante em um mercado dinâmico e competitivo.

Captação de recursos em estágios iniciais

O estágio inicial de uma startup é um momento crítico em que os empreendedores estão moldando suas ideias e planejando o lançamento do negócio. Nessa etapa, a falta de recursos financeiros pode ser um grande obstáculo para tirar a ideia do papel. Buscando superar essa barreira, as primeiras  categorias de investimentos que uma startup normalmente consegue são: investimento FF&F, que representa a sigla “Family, Friends, and Fools”; e os investimentos dos Investidores Anjos. Vamos analisar mais detalhadamente os dois a seguir:

Investimento FF&F (Family, Friends & Fools)

Os investidores FFˆF são um grupo de pessoas próximas aos empreendedores, como familiares, amigos e outras pessoas dispostas a assumir riscos financeiros com base na confiança pessoal, por isso o termo “tontos” (fools). Eles estão dispostos a investir recursos financeiros no estágio inicial de uma startup, acreditando na visão dos empreendedores e na viabilidade do negócio.

O financiamento proveniente do círculo pessoal desempenha um papel vital na jornada de uma startup. Ele fornece o capital necessário para dar os primeiros passos, desenvolver protótipos, realizar pesquisas de mercado e criar um plano de marketing e vendas. 

Apesar disso, esse tipo de investimento não está isento de desafios, que podem ser:

  • Relações pessoais: o envolvimento de familiares e amigos em questões financeiras pode ser delicado. Diferenças de opinião ou desentendimentos podem afetar relacionamentos pessoais; e
  • Expectativas irrealistas: investidores FF&F, por sua falta de experiência em investimentos, podem ter expectativas irreais sobre os retornos financeiros. É essencial estabelecer acordos formais e expectativas claras desde o início.

Nesse contexto, apesar dos desafios, o investimento FF&F é muitas vezes a única opção para startups no estágio de MVP (Minimum Viable Product). A confiança e o apoio de pessoas próximas podem fornecer o impulso inicial necessário para levar uma ideia do papel para a realidade.

Investidor Anjo

Ao contrário do investimento FF&F (Friends, Family and Fools), esses investidores são geralmente empreendedores de sucesso, executivos experientes ou especialistas em um determinado setor, dispostos a investir capital em troca de participação na empresa. Basicamente, os investidores anjo possuem o “Smart Money”, ou seja, além de sua contribuição financeira, eles oferecem insights estratégicos e auxiliam no funcionamento cotidiano das startups, atuando como conselheiros do negócio.

Essa prática envolve indivíduos que aportam recursos financeiros e conhecimento em empresas ou startups, escolhendo aquelas com potencial de crescimento, muitas vezes com base em afinidades com o segmento e tipo de atuação desejados. É comum que alguns investidores anjo se reúnam para investir coletivamente, compartilhando seus conhecimentos e reduzindo os riscos associados, em troca de uma participação minoritária na empresa. Após o sucesso da empresa, esses investidores podem vender sua participação a fundos de investimento, outras empresas ou até mesmo aos sócios fundadores.

Alguns dos papéis dos investimentos de investidores anjo são:  

  • Mentoria e orientação: esses investidores oferecem orientação valiosa, compartilhando experiências e conhecimentos que são fundamentais para o crescimento da startup;
  • Rede de contatos: com sua ampla rede de relacionamentos, eles  ajudam a abrir portas para oportunidades de negócios, parcerias estratégicas e clientes em potencial;
  • Credibilidade: o envolvimento de um investidor anjo renomado aumenta a credibilidade da startup, tornando-a mais atraente para outros investidores e parceiros; e
  • Acesso à capital adicional: esses indivíduos frequentemente atuam como uma ponte para investimentos subsequentes, conectando as startups a outros investidores e veículos de investimento.

Embora a relação com investidores anjo ofereça muitos benefícios, também envolve responsabilidades. Os empreendedores devem manter uma comunicação eficaz, compartilhar informações e estabelecer expectativas claras. Manter a transparência é fundamental para evitar conflitos no futuro.

Em síntese, o financiamento de uma startup neste estágio inicial muitas vezes começa com o apoio de familiares, amigos e pessoas próximas, conhecidos como investidores FF&F. Eles fornecem o capital necessário para dar os primeiros passos e transformar uma ideia em ação. Posteriormente, o envolvimento de investidores anjo fortalece a startup com capital, conhecimento e conexões estratégicas, pavimentando o caminho para um crescimento mais robusto. 

Próximas captações de recursos

Depois de levantar os primeiros recursos para validar minimamente a ideia, as startups partem para veículos de investimentos mais robustos, no qual falamos de agentes como Aceleradoras, Crowdfundings, Fundos de Investimentos e Venture Debt. Contudo, nessa etapa já se torna necessário maior maturidade, governança e processos estruturados por parte da empresa, uma vez que a startup precisa comprovar que já possui uma organização mínima para receber esses investimentos.

Aceleradoras 

As aceleradoras costumam ser a primeira porta que se abre quando falamos de captação de recursos, visto que o objetivo dela, mais do que fazer o aporte financeiro – que não é regra – é auxiliar as startups na validação do seu produto. Todavia, vale ressaltar que os serviços oferecidos pelas aceleradoras divergem entre si pelo fato de cada uma ter uma fonte de financiamento diferente. 

Ou seja, algumas aceleradoras são financiadas por grandes corporações e visam a aquisição da empresa como forma de investimento, outras são mantidas por corporações que visam se posicionar no mercado e também existem as aceleradoras apoiadas por iniciativas governamentais. Os serviços prestados por essas empresas podem conter investimento financeiro, benefícios de créditos de acesso a plataformas, como AWS e Google Cloud por exemplo, descontos em serviços de outras empresas, aulas, mentorias e muitos outros.

Mas, de forma simplificada, para uma empresa selecionar o programa de aceleração que irá participar é necessário considerar previamente alguns pontos: 

  • Terá aporte financeiro ou não? Se sim, qual será a participação da empresa cedida para a aceleradora? 
  • Qual é a contrapartida para que sua empresa participe do programa?
  • A aceleradora é referência no seu setor? Possui uma boa rede de networking?
  • Você tem tempo disponível para participar de todas as mentorias e aulas propostas? 
  • Você gostaria de ter os mantenedores dessa aceleradora atrelados à imagem da sua marca?

Além disso, uma característica muito forte nas aceleradoras é que elas encerram o seu Batch (ou ciclo de formação) com um Demo Day, que nada mais é do que a apresentação de um pitch para investidores, momento que tem como principal objetivo levantar pontos fracos das startups para que elas continuem se aprimorando e consigam vender ainda mais e captar mais recursos. 

Crowdfundings

O Crowdfunding nada mais é do que um investimento coletivo, ou seja, vários investidores se reúnem para formar uma “vaquinha” que será direcionada para um projeto específico. Atualmente, já existem diversas plataformas especializadas nesse modelo, entretanto, mais do que o valor captado, a empresa também deve se atentar aos prós e contras da transação. 

Uma das principais características dessa estratégia é a possibilidade de uma rodada de captação ser fechada mais rapidamente do que através de outros meios, dado que, normalmente, a startup faz a oferta do valor que ela gostaria de captar e os investidores interessados da plataforma decidem em qual empresa querem investir e o valor do investimento que eles estão dispostos a fazer. Após finalizado o período pré estabelecido de oferta, a rodada é fechada e a startup pode ou não ter captado o valor total que desejava. 

Porém, um dos maiores pontos de atenção para esse modelo é relativo às alterações no quadro societário, pois todos os investidores que participaram do investimento realizado no projeto farão parte da sociedade. Neste momento, vale levantar um conselho muito importante para uma startup early stage: o captable será sempre um ponto a ser analisado durante as rodadas de investimento, então é necessário cuidado para que os sócios fundadores não sejam muito diluídos. 

Fundos de Investimentos

Temos também os Fundos de Investimentos, que fazem aportes relativamente baixos até investimentos significativos em troca de uma porcentagem societária. As startups que optam por receber investimentos através dessa estratégia necessitam de maior maturidade e paciência, uma vez que o modelo exige que alguns processos sejam realizados de forma mais cuidadosa, tal como a due diligence (leia sobre em nosso artigo Due Diligence e a importância para startups e empresas de tecnologia). 

Assim como as aceleradoras, os fundos também possuem diversos perfis – ou melhor, teses de investimento – e que não devem ser desconsiderados no processo de decisão da fonte desse recurso para a startup. Esses critérios podem variar de acordo com o tamanho do cheque que o fundo deseja fazer (Seed, Serie A, Serie B, Serie C, etc.), de acordo com o setor (financeiro, saúde, varejo, etc.), de acordo com a região (Sudeste, Nordeste, Norte, etc.) e inclusive de acordo com o modelo de negócios (B2B, B2C, B2B2C, Saas, Hardware, etc.). Esses critérios servem justamente para direcionar o fundo durante o processo de seleção das startups investidas. 

Dentro desse contexto, é importante que a startup estude sobre as atuações e histórico desse fundo e compreenda se a sua empresa e o cheque que está buscando se enquadram na tese de investimento do fundo em questão. Em caso negativo, entrar no processo de seleção pode ser frustrante e desperdício de tempo, tanto para o fundo quanto para a startup.

Venture Debt

Por fim, quando as opções mais comuns de investimento não são suficientes para atender às demandas do empreendedor, abre-se espaço para a atuação do Venture Debt. Também conhecido como “Dívida de Risco”, basicamente se refere a uma modalidade de financiamento: um empréstimo com termos específicos criado especialmente para impulsionar startups em early stage que apresentam um alto potencial de crescimento.

Essa alternativa se difere de outros meios de captação de recursos, pois não exige ativos atuais como garantia, assemelhando-se mais à tomada de crédito dos grandes bancos, só que com o enfoque em capital de risco. O Venture Debt utiliza rodadas anteriores de capital próprio como garantia, confiando nos sucessos prévios da empresa em levantar capital, ou seja, se a empresa teve rodadas de investimento bem-sucedidas e demonstrou um aumento no seu valor de mercado, isso serve como uma forma de segurança para o empréstimo. 

Dentre seus aspectos mais atrativos temos a manutenção da equidade, já que não há a necessidade de diluir a participação acionária existente, bem como a flexibilidade, pois estimula a disponibilidade de caixa de maneira que proporcione às startups meses suplementares para alcançar seus objetivos. Por outro lado, o desafio está no equilíbrio entre a agilidade oferecida e o ônus das taxas elevadas, visto que o risco financeiro associado ao endividamento pode representar um problema significativo, principalmente para startups em early stage, dada a necessidade de desembolsos de caixa e o compromisso futuro de pagamento ou refinanciamento.

Conclusão

Com base no que foi apresentado, fica evidente que a obtenção de recursos é uma peça fundamental para o aumento da maturidade e para a expansão das startups, sendo inevitável ao longo de diferentes etapas do seu ciclo de vida, desde a concepção inicial até o estágio de tração. Nesse sentido, a variedade de fontes de investimento e recursos disponíveis é ampla e abrange diversos setores e estágios das startups.

De forma resumida, a captação de recursos não apenas sustenta a operação das startups, mas também impulsiona sua capacidade de inovação, escalabilidade e competição no mercado. Essa diversificação nas formas de investimento revela-se essencial para enfrentar os desafios em cada fase, assegurando, assim, um crescimento sustentável e bem-sucedido.

Zomer Righetto Legal Department é apoiador da educação e crescimento profissional dos estudantes; portanto, é mantenedor fundador do Grupo de Estudos de Direito e Tecnologia (GEDITech), vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Esse artigo foi escrito pelos membros Thais Carneiro, Thaís Tiemi Alves Habe e Guilherme Saldanha, coordenado por Isabela Grolli Rocha  e Luiza Pavei, todos do GEDITech, em uma ação em parceria com o ZR Legal Department.